O primeiro número do Boletim Batalhar, Publicado em maio de 2015, tratou de dois temas diferentes em uma mesma edição. A parte da frente afirmava: “O que agrediu os professores no Paraná também nos agride” e o verso: “O que a luta em Kobane pode ensinar ao proletariado”. Neste número inaugural estão todos os nossos princípios e lições históricas do movimento proletário autêntico: internacionalismo, protagonismo e solidariedade de classe, aliados à rejeição ativa às burocracias institucionalizadas. Nem o polo negativo, tampouco o positivo, são fetiches libertários da linha editorial.

Sobre a greve da educação no Paraná destacamos, além da gritante repressão policial que o movimento sofreu, os ataques políticos que a categoria recebeu por parte do seu sindicato. Na prática, percebemos no tempo presente, aquilo que a história já nos ensinou, mas que parcela significativa dos trabalhadores ainda se recusa a enxergar e trazer para sua prática de lutas e enfrentamentos: os sindicatos não promovem lutas, mas as controlam. Antes, durante e depois das lutas administram volumosas quantias de fundos de pensão e exercem uma atividade capitalista como as demais.

Não se trata de acusar a esquerda do capital de fazer o que ela sempre fez, que é usar os conflitos sociais como mola para a ascensão social de determinados quadros (ou grupos), mas de questionar por que ainda um número expressivo de trabalhadores transferem seu protagonismo para os sindicatos quando estão diante de ataques dos capitalistas e governos.

Nesse sentido, o Boletim Batalhar identificou no movimento dos professores uma autonomia da classe e não de comportamento ou estilo de vida. Da mesma forma, encontramos naquele momento do movimento curdo em Kobane este protagonismo na construção das próprias instituições de luta. Destacamos o envolvimento direto da população curda nas decisões políticas, nas atividades de produção econômica e inclusive nas de defesa, com destaque também para a participação ativa das mulheres em todos estes processos.

Desde este primeiro exemplar do Boletim, buscamos extrair da realidade concreta dos conflitos sociais as concepções que orientam a nossa produção editorial, a fim torná-la um instrumento que auxilie no desenvolvimento das lutas que nossa classe precisa travar. O que nos mobilizou em torno da luta dos professores do Paraná e do povo curdo em Rojava foi que identificamos naquelas experiências, formas e conteúdos que expressavam, em germe, elementos de uma organização social futura.

Da mesma forma, o Boletim Batalhar se organiza e produz materiais que apontam no sentido da construção do que acreditamos ser a sociedade futura, onde haverá igualdade plena, tempo livre e abundância.

Da mesma maneira que rejeitamos a condução das lutas baseada na divisão entre “direção” e “base”, divisão que se manifesta já no movimento estudantil, a partir da atuação de partidos institucionalizados e burocracias oficiais, e se amplia no movimento dos trabalhadores, pelo monopólio jurídico dos sindicatos, rejeitamos a separação entre escritores e leitores, promovendo uma dinâmica de interação direta e constante nos Círculos de Leitura.

Ao mesmo tempo, os princípios que formam as lutas proletárias autênticas, que orientam nossa produção editorial, em forma e conteúdo, servem como ferramenta para associação desses princípios de análise e leitura da realidade em favor de princípios organizativos.

Não se trata de “dogmatismo”, “sectarismo”, “principismo”, aquilo que os setores sempre dispostos a ingressar e permanecer nas instituições do capital acusam os movimentos de classe combativos e orientados pela experiência histórica do movimento proletário. Trata-se do entendimento de que só é possível construir uma nova sociedade a partir das bases que a orientam.

Quer dizer, a forma como as lutas e as suas ferramentas são forjadas devem apontar para o sentido da sociedade do futuro, de outra forma, não há razão para que nasça um mundo sem divisão de classes se as lutas sociais reproduzem as mesmas divisões típicas do capitalismo: decisão x execução; direção x base; intelectual x manual; etc.

Publicado mensalmente sem interrupção por cinco anos, preservamos em cada número esse conjunto de orientações que reúne experiência histórica e teoria a favor do protagonismo da classe proletária, sem concessões. Nesta coletânea reunimos pouco mais da metade da nossa produção, selecionando aqueles números que marcam momentos e temas centrais desta meia década de combate.

Priorizamos as análises internacionais: Venezuela (nº 22); Revolução Russa (nº 23); Maio de 68 (nº 30), Revolução Alemã (nº 36); eventos determinantes na correlação de forças da luta de classes: Terceirização (nº 2); Reforma trabalhista (nº 17 e 18); Reforma da Previdência (nº 42) e debates que constantemente surgem nos meios das lutas sociais: identitarismo (nº 11); feminismo (nº 27); ecologia (nº 20 e 46); educação (nº 10, 12 e 47); redes sociais (nº 58); eleições (nº 60).

Além destes três eixos, destacamos a série especial O proletariado existe, onde desfazemos a falácia acerca do “desaparecimento do proletariado”, demonstrando categorias contemporâneas da classe. O nº 26 foi o inaugural da série, “Especial: o proletariado existe e se amplia – Parte I”, o nº 33 apresentou a categoria do setor de telemarketing e o nº 52 a dos trabalhadores de aplicativos.

Esta edição comemorativa do Boletim Batalhar, registra a alegria com a sobrevivência do nosso Boletim em tempos tão sombrios e é uma forma de demonstrar que podemos e devemos permanecer entrincheirados, unidos pelo propósito de transformação radical da sociedade, mesmo em épocas de absoluto refluxo das lutas.

Por sermos contrários à lógica da poluição informacional da internet e da cultura do esquecimento das redes sociais, via instantaneísmo permanente, organizamos a coletânea também a fim de garantir uma memória desta primeira trajetória do Batalhar.

Memória aqui é mais do que colecionar fatos e números, sendo que o papel da reunião destas edições é promover um pensamento proletário, vivo e ativo. Assim, o Boletim Batalhar segue fiel à sua linha editorial, sendo uma ferramenta da luta de classes.

Boa leitura,
Boa luta!